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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Diga que me quer

Longos e ondulados cabelos castanhos, um rosto rosado e tímidos olhos escuros. Eu estava atraído por ela. Não como homem que se atrai por uma mulher, mas pelo seu silêncio e pela controlada vontade de olhar-me nos olhos. Pelo apreensivo flerte que dançamos ao som do trem, combinado pelo nosso inexistente ensaio. Olhávamos discreta e pausadamente um para o outro. Diversas vezes. Nos olhamos diretamente nos olhos por alguns segundos até que nossos rostos virassem. Eu podia vê-la me observar pelo reflexo no vidro quando não nos olhávamos.

Eu podia simplesmente levantar e sentar ao seu lado. Porém o jogo, como sempre, me deslumbrava. Não, talvez não seja isso. Talvez fosse apenas inércia. Mesmo assim, nos distraímos com nossos papéis. Obedecíamos sem saber a velhas tradições na elegante expressão do dueto entre “pretedente” e “amada acanhada”, ao qual cada um assumira seu papel sedutor dentro do protocolo do cortejo.

Flerte intenso, pautado por sorrisos gentis retribuídos com tímidos olhares, com a sutileza característica dos livros de romance adolescentes na arte de provocar. Um jogo excitante, escondido em outro mundo, longe dos olhos da pessoas comuns, para além do ambiente daquele metrô.

Após algumas estações, ela levantou. Seguiu até a porta e desembarcou. Saí do meu lugar me virando para a janela, para olhá-la pela última vez, e nossos olhares se cruzaram. Ela havia feito o mesmo. E ficamos ali, por eternos três segundos com os sorrisos mais sinceros de nossas vidas. Quando me dei conta, as coisas já haviam sido ditas sem eu as ter dito. E ficamos nos olhando pelo vidro do metrô. Como um Romeu e Julieta separados pelo destino, enquanto o trem se distanciava cada vez mais do meu amor cortês.

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